“Mais uma vez vou te pedir: manda meu dinheiro, beleza?”. A mensagem é
curta e direta e foi enviada, via celular, por supostos traficantes que
cumprem pena no Complexo Prisional do Curado ao pai de um preso
dependente de crack. Além de revelar o drama de um homem que é obrigado a
custear o consumo de drogas do filho dentro de uma unidade penal do
estado, a denúncia, feita nessa segunda-feira em audiência pública na
Assembleia Legislativa pelo pai do detento, também revela que os
celulares continuam funcionando dentro do complexo penitenciário mesmo
após a instalação de bloqueadores.
Há cerca de um mês, a Secretaria de Ressocialização (Seres) anunciou
que a iniciativa seria o fim da comunicação entre os presos e o mundo
exterior, o que inibiria a prática de alguns crimes. Na vizinhança do
complexo, no entanto, o sistema funciona “muito bem” e há moradores que
estão incomunicáveis.
“Se quiser falar com um preso agorinha, tem celular pra falar com
ele. O Frei Damião de Bozano (uma das unidades do complexo) é como uma
cracolândia. No último domingo, saí devendo R$ 370 aos traficantes. Eles
pegam meu número de telefone e tenho que depositar o dinhero. Ou
deposito ou meu filho apanha. Eles dizem: ‘Se não pagar, o senhor visita
seu filho no hospital porque a gente vai botar pra quebrar’”
.
O secretário de Ressocialização, Romero Ribeiro, disse que os
bloqueadores estão em testes e, por isso, sujeitos a falhas. “Eles
funcionam, mas têm ajustes em áreas de sombra. Só teremos resposta da
empresa no dia 15 de abril”. O secretário disse que vai instaurar
sindicância para apurar a denúncia a partir de hoje.
Artifício
Para Eduardo Tude, presidente da empresa Teleco, de inteligência em
telecomunicações, há duas possíveis explicações: 1) O bloqueador estaria
impedindo a comunicação em uma frequência e os presos estariam usando
outras; 2) Os presos estariam usando rádios para falar com uma central
que faz o serviço de comunicação por celular. Em meio ao impasse, os
vizinhos do complexo são prejudicados.
Para a dona de casa Maria de Lourdes de Oliveira, 55 anos, usar
celular, internet e TV por assinatura viraram desafio. “Na semana
passada, minha mãe passou mal e precisou ser socorrida. Ela me disse que
ligou várias vezes e meu celular dava fora de área. Quem socorreu foram
os vizinhos”. Já a comerciante Vanessa Nascimento teve o faturamento
comprometido porque a maquineta da loja não funcionava. “Também não
consigo falar ao celular”, reclama.
terça-feira, 25 de março de 2014
Excluzivo! em Pernambuco Bloqueadores não impedem presos de usar telefones celulares
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